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O número real de casos confirmados de Covid-19 em São José dos Campos pode ser até 6,5 vezes superior à contagem oficial da Secretaria de Saúde, que aponta 351 até sexta-feira (8). Na verdade, o número de infectados pode ser de 2.200, com a maior parte deles com pouco ou nenhum sintoma da doença, mas espalhando o vírus na população.
O motivo é a alta taxa de subnotificação dos casos, em razão de os testes serem feitos normalmente entre os pacientes mais graves da doença, e não na população em geral.
Para tentar obter um quadro mais real da doença na cidade, Paulo Barja, professor na FEAU (Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo) da Univap (Universidade do Vale do Paraíba), acompanha diariamente a divulgação dos casos oficiais para estimar a taxa de subnotificação.
Ele usa modelos matemáticos da Fiocruz e da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro e explica que os dados utilizados são os dos chamados "casos concluídos" -- óbitos e curados.
A partir disso, é construído o fator e a estimativa dos 'casos reais', multiplicando-se o número oficial pela taxa de subnotificação.
Como os dados mudam todos os dias, a subnotificação também é variável e precisa ser recalculada diariamente, como ressalta o professor, que é formado em Física e tem mestrado e doutorado na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
"Em princípio, todo mundo fica assustado com o número. Mas digo que São José dos Campos está claramente melhor do que o Brasil como um todo. Nosso trabalho é técnico, não queremos alarmar ou minimizar", explica Barja.
Ele também calcula a subnotificação nos registros de morte por Covid-19.
Em São José, na sexta (8), a taxa foi de 2,5. Com isso, o número oficial de 16 óbitos confirmados pode ser, na realidade, de 40 mortes pela doença.
Os números merecem atenção e sempre são preocupantes. "Fato de estar melhor do restante do país não significa que podemos nos descuidar em São José", afirma Barja.
BRASIL.
O estatístico também estima o número real de casos de coronavírus no país, que alcançou 146 mil infectados na sexta (8) e 9.992 mortes.
Segundo Barja, a taxa de subnotificação de casos confirmados no país é de 11. Ou seja, o país pode ter mais de 1,6 milhão de pessoas infectadas por coronavírus neste momento. Já a quantidade de mortes pode ser cinco vezes maior, chegando a quase 50 mil. "Isso é assustador", diz ele.
Barja pondera que a análise dos casos confirmados é sempre como "olhar no retrovisor", em razão do tempo que leva desde o contágio por coronavírus até a obtenção do resultado positivo.
"Estamos sempre olhando para o passado. Não é previsão o que fazemos, não é bola de cristal", explica.
A subnotificação também pode escamotear a real gravidade da doença no país. Segundo Barja, a mortalidade estimada por vírus, em geral, fica na faixa de 1% ou menos. No Brasil, o índice vem se mantendo em 7%. "Não era para ser isso, é muito menos do que isso. Está acontecendo a subnotificação."
Da análise dos números, contudo, Barja percebe que o Brasil vai perigosamente se aproximando da curva de crescimento verificada nos Estados Unidos, hoje epicentro da doença no mundo, com 1,2 milhão de infectados e 76 mil mortes.
"O melhor é que nos aproximássemos da curva da Alemanha, mas o pior é que estamos mais perto da curva dos EUA".
O problema pode ser traduzido no número de testes por milhão de pessoas. Enquanto os EUA fazem, em média, 20 mil testes por milhão de pessoas, a Alemanha vai a 26 mil por milhão e o Brasil patina em 1.500 testes por milhão.
"Isso é muito mais do o '7 a 1', mais complicado. Uso essa frase para o pessoal entender a gravidade", diz Barja, em referência ao 7 a 1 na vitória da Alemanha sobre o Brasil na Copa do Mundo de 2014..