M. Jornalista de São José dos Campos | @jornalovale
Morava em Maputo, capital de Moçambique, há quatro anos e, no final de 2019, vim para o Brasil me casar. Logo em seguida, meu marido foi trabalhar na Alemanha. Eu o encontraria em abril.
Voltei para Moçambique em janeiro para dar avisar meu trabalho, uma empresa de reciclagem na qual tenho um cargo de liderança.
Ainda não havia nada sobre o coronavírus. Combinei de ficar até o final de abril e depois iria para a Alemanha.
Começaram os rumores sobre a doença e as fronteiras e os aeroportos estavam começando a fechar, e não teria como sair de Moçambique.
Então, achei melhor tentar sair naquele momento e continuar trabalhando online até abril. Aí começou o drama.
A Alemanha já tinha fechado as fronteiras.
Falei com o consulado e estrangeiros não poderiam entrar, e minha única alternativa era voltar ao Brasil.
Anunciaram o primeiro caso em Moçambique em 22 de março, dia da minha passagem de volta ao Brasil. No dia 19, a companhia cancelou todos os voos. Não consegui ir para a África do Sul. As rotas estavam se fechando.
Na África ainda tinham alguns voos para São Paulo, mas eu não tinha como chegar lá.
Estava muita pressão e eu bem assustada. Tinha feito cadastro na Embaixada do Brasil em Moçambique, com outros brasileiros que não conseguiam voltar. A Embaixada apontou um voo da Etiópia.
Era um voo bem mais longo. Informação era que tínhamos que ir para a Etiópia e passar a noite em um hotel.
Eu e mais dois amigos saímos de Maputo para Guarulhos, com escala na Etiópia, no dia 3 de abril.
Arrumei minhas coisas e vim. Pegamos o primeiro voo e chegamos em Adis Abeba, capital da Etiópia. O aeroporto estava vazio, foi muito estranho. Normalmente a cidade e o aeroporto são muitos lotados.
Passamos por testes de temperatura, pessoal com máscaras e luvas, médicos. Demorou um pouco. Tínhamos que pegar o visto para passar a noite no país, num hotel.
Foi minha mais longa saga num aeroporto.
O hotel era ótimo, mas não podíamos sair dos quartos por medidas de prevenção. Mediram a temperatura e o jantar e o café foram no quarto. Por descuido, deixei a porta aberta para pegar minha refeição e soou um alarme. Tinha esse controle bastante rígido.
No dia seguinte, fui para o aeroporto. O voo estava bem lotado, com muitos brasileiros e alguns argentinos e uruguaios.
Cheguei a Guarulhos e o aeroporto estava muito vazio, muito estranho ver essa cena.
Meus pais são idosos e não podiam me buscar. Convenci um Uber a me levar para São José. Sensação de alívio ao chegar. Estou isolada, e só quero agora poder me encontrar com meu marido..