Jorge Miklos Sociólogo |
analista junguiano e pesquisador sobre masculinida-des contem-porâneas |
A recomendação das autoridades científicas de saúde para que a população brasileira evite sair de casa tem sido amplamente propagada pelos canais de imprensa. Trata-se de um protocolo para diminuir o alastramento da covid-19, evitar o colapso do frágil sistema de saúde e salvar vidas. Muitos países têm adotado a orientação do isolamento social e, mesmo assim, a pandemia tem ocasionado muitos óbitos.
O presidente Jair Bolsonaro, contrariando todas as diretrizes e recomendações das autoridades de vigilância sanitária, realizou um passeio nos arredores de Brasília, atraindo aglomerações e a atenção de muitos, que estavam nos arredores, que se aproximavam do presidente. Valendo-se de sua linguagem habitual, disse a respeito da pandemia: "vamos ter que enfrentar como homem, porra (grifo nosso). Não como um moleque". Na fala do presidente está explícito o sentido de que ele se considera "macho" o suficiente para tornar-se imune à doença e que somente os fracos ou os que não são homens o bastante é que estão com medo da grave pandemia.
No seu discurso, Jair explicita os valores do que se entende por masculinidade tóxica. Uma pesquisa da Organização Pan-Americana de Saúde atestou que 57% dos homens afirmaram ter sido ensinados a não se preocupar com a saúde, pois isso indicaria fraqueza.
Bolsonaro literaliza a imagem mítica patriarcal do deus Cronos (Saturno para os romanos), que devorava os próprios filhos. Usar a pretensa virilidade para desrespeitar os protocolos da OMS é colocar-se ao lado de outra entidade mítica, Hades, o deus da morte..