somos o que dizemos ou o que fazemos?

Julio Codazzi Editor-executivo dos jornais OVALE e Gazeta de Taubaté |

Nós somos o que dizemos ou o que fazemos? A pergunta é apenas uma mera provocação, já que tem resposta óbvia.

Mesmo assim, no Fla x Flu em que vivemos, no qual o eleitorado parece preferir o autoengano a assumir a inaptidão do candidato do espectro político de seu agrado, nem sempre é assim.

Com todos os fatos ocorridos durante os quase 30 anos de sua trajetória política, Jair Bolsonaro tinha algum predicado que permitisse considerá-lo como alguém que combateria bravamente a corrupção?

Vejamos: antes mesmo de virar presidente, trazia em seu currículo casos de funcionários fantasmas, nepotismo, rachadinha, recebimento indevido de verbas públicas, entre outros. Mesmo assim, bastou dizer que era contra a corrupção para cegar parte do eleitorado, que o elegeu mito e presidente.

Já no governo, novos episódios se multiplicaram. Aquele discurso do rigoroso combate à corrupção foi sendo deixado de lado à medida em que ministros se envolviam em denúncias gravíssimas. Também se acumulavam os casos em que o presidente usava seu poder em benefício próprio, seja para se vingar de quem lhe causou algum mal (como o fiscal do Ibama que havia aplicado uma multa no capitão em 2012), seja para tentar aliviar a barra dos seus filhos, que adoram se meter em confusão.

Ser contra a corrupção não foi a única mentira que Bolsonaro contou para se eleger. Outra foi dizer que era liberal na economia. Com isso, fechou o combo que agradou o mercado e o eleitorado de direita. No governo, para sustentar suas bandeiras, nomeou para a Justiça o ex-juiz federal Sergio Moro, que havia sido alçado ao posto de herói nacional com a Lava Jato, e para a Economia, Paulo Guedes.

Na última semana, Bolsonaro cansou de tentar manter as aparências. Escanteou Guedes, que ficou de fora da discussão do plano Pró-Brasil, elaborado por militares e que prevê R$ 30 bilhões em obras públicas para recuperar a economia (para desespero do 'Posto Ipiranga'). E bateu de frente com Moro - para tentar interferir na autonomia da Polícia Federal, viu a cabeça do 'superministro' rolar.

A demissão de Moro parece ter sido suficiente para fazer parte do eleitorado bolsonarista acordar. Alguns políticos e empresários ameaçam tirar o apoio ao governo. Mas será o bastante para marcar o início do fim dessa péssima gestão?

Pela lógica, não adianta dizer que é contra a corrupção, se seus atos mostram o contrário. Mas o quanto isso realmente importa para os brasileiros? Até agora, o eleitorado tem aceitado com extrema passividade o discurso dos políticos. E isso vale não apenas para o presidente. Bolsonaro é somente um exemplo de como, por pura conveniência, escolhemos quem irá nos enganar, de eleição a eleição..

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