É a hora de 'achatar a curva'. A expressão, que acertadamente está sendo repetida à exaustão ao longo da semana, é clara: vivemos um momento decisivo para evitar que a pandemia do novo coronavírus tenha um boom no número de casos -- e de mortes, principalmente aflingindo idosos -- no Brasil dentro das próximas duas semanas. Nesse período, em que a precaução e as medidas adotadas hoje vão ser determinantes para salvar vidas amanhã, todo dia é o 'Dia D' -- em alusão a uma das mais decisivas batalhas da Segunda Guerra Mundial, travada no ano de 1944, com tropas aliadas derrotando forças nazistas na Normandia, começando assim a escrever, nas areias de Omaha e de outras praias francesas banhadas pelas águas do Altântico, um novo e decisivo capítulo no sangrento confronto planetário.
Mas que curva é essa?
Segundo especialistas e autoridades sanitárias, o pico da doença no Brasil deve acontecer entre abril e maio, colocando em risco o sistema de Saúde, que, de acordo com o ministro Luiz Henrique Mandetta, pode colapsar.
O novo coronavírus tem período de incubação de 14 dias e, por isso mesmo, a falta de prevenção hoje vai cobrar um preço alto daqui duas semanas. Simples.
Por esse motivo, de forma acertada e em consonância com o que está sendo adotado em países ao redor do globo, com base científica e não baseada em achismos de botequim, estados decidiram adotar a quarentena -- é o que foi feito, por exemplo, em São Paulo, onde o período de isolamento vai seguir até o próximo dia 7.
A quarentena é uma medida que -- com base na análise do que deu resultado em outros países, inclusive na China, país onde o vírus se originou -- salva vidas.
E toda vida importa.
Municiado por seu gabinete do ódio, Jair Bolsonaro (sem partido e sem capacidade cognitiva para liderar) perdeu uma grande oportunidade na noite da última terça, quando falou à Nação.
Ao invés de falar aos brasileiros sobre a necessidade do 'achatamento da curva' dos casos, a respeito da importância de adotar as medidas preventivas recomendadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde), o capitão mostrou que o Palácio do Planalto é hoje um navio fantasma que, absolutamente à deriva, ignora o farol da ciência e do conhecimento e segue, a toda velocidade, rumo aos rochedos da autodestruição.
Ao contrariar orientações médicas, usando argumentos primitivos, toscos e infantis, o presidente coloca irresponsavelmente em risco a vida de milhões e milhões de brasileiros. E como? Criando a fantasiosa dicotomia entre saúde e emprego, relativizando o valor da vida de pessoas com mais de 60 anos. Quanto vale a vida?
Nesta quinta-feira, na porta do Palácio da Alvorada, o presidente disse que o brasileiro -- que paga uma carga tributária altíssima -- devia cuidar da sua própria saúde e não ficar esperando que governantes façam isso.
Em um momento decisivo, com a chance de achatarmos a curva, Bolsonaro se apequenou. O vírus achatou o presidente, que insiste em cegamente conduzir o Brasil rumo ao abismo profundo..