Quem herda o espólio da guerra quase fratricida travada entre o PSL e o presidente Jair Bolsonaro ao longo de 2020? Usando uma analogia com referência às relações conjugais, o capitão divorciou-se da sigla, não conseguiu criar uma nova aliança e... como ficou a divisão de bens do antigo casal, que em 2018 fazia declarações de amor eterno?
O bolsonarismo é suprapartidário.
Este é um ponto vital para a compreensão deste fenômeno.
Diferentemente do que ocorre com o lulismo, por exemplo, em que os seguidores votam no 13 do PT, o bolsonarismo é um fenômeno distinto, em que seus adeptos não necessariamente optam pelo 17 e confirma -- principalmente após a briga entre o presidente e o PSL, que tinha como pano de fundo a verba partidária.
Um exemplo?
O levantamento OVALE/TV Band Vale/Paraná Pesquisas divulgado na última sexta-feira, mostrando o cenário da largada eleitoral em São José dos Campos, aponta o tucano Felicio Ramuth (PSDB) com 47,4% das intenções de voto na pesquisa espontânea. O candidato do PSL, Anderson Senna, que cola a campanha na imagem do presidente, teve 1,8%.
Como explicar isso em meio ao aumento na aprovação do presidente?
Em São José, especificamente, até aqui é provável que o tucano tenha conquistado a preferência de fatia considerável do eleitorado que gosta de Bolsonaro.
Isso graças à atuação do Paço no enfrentamento à pandemia, com a ofensiva iniciada em abril por uma maior flexibilização na quarentena, opondo-se ao Plano São Paulo, do governador João Doria (PSDB), maior antagonista do presidente no cenário nacional.
O bolsonarismo mostra-se uma ideia mais do que um partido.