Xandu Alves | @xandualves10
Movida a desafios e destinada a superar crises -- praticamente uma por década desde 1990 --, a Embraer enfrenta um dos capítulos mais desafiadores da sua história de 51 anos.
Os números revelam o tamanho do problema.
Terceira maior fabricante de aviões comerciais do mundo, a Embraer entregou 59 jatos em 2020, de janeiro a setembro.
Com isso, a empresa sediada na RMVale tem média de 6,5 aviões entregues por mês em 2020, a mais baixa média de entregas desde 2000. A do ano passado foi de 16,5 aviões mensais e a de 2018, de 15.
A média de entregas de 2020 é ainda mais baixa da dos anos em que a empresa enfrentou severas crises, como em 2001, por conta dos atentados às torres gêmeas, nos Estados Unidos e incertezas na aviação. Naquele ano, a média mensal de entregas é de 13,5 aviões.
A crise financeira de 2008 também atingiu fortemente a empresa, que precisou cancelar e adiar entregas, mas terminou o ano com 16,5 aviões entregues por mês, em média.
Por fim, os impactos da crise financeira de 2008 levaram a Embraer a demitir 4,3 mil funcionários em 2009.
Mesmo assim, a fabricante terminou o ano entregando, em média, 19,7 aviões.
Nos últimos 20 anos, o recorde de entregas da Embraer foi batido em 2010, com 244 aviões entregues no mercado internacional. Mais recentemente, a empresa alcançou 225 aeronaves em 2016 e 210, em 2017. No ano seguinte, entregou 181 aeronaves e 198 em 2019.
COMERCIAL.
Principal setor da companhia e responsável por cerca de metade do faturamento da Embraer, a aviação comercial foi a maior impactada com duas crises juntas: a da pandemia do coronavírus, que atingiu severamente a aviação global, e a provocada pelo processo de reversão do negócio com a Boeing, fracassando em abril.
O acordo comercial previa a separação da aviação comercial do restante da Embraer, processo que estava perto da conclusão quando o negócio caiu por terra.
Mesmo cancelado, o negócio gerou custos financeiros --de quase R$ 500 milhões-- e administrativos à Embraer, obrigada a passar por processo de reintegração das suas áreas.
Nos nove primeiros meses de 2020, a Embraer entregou 16 jatos comerciais no mercado, bem abaixo da quantidade de aeronaves entregues no mesmo período dos quatro anos anteriores: 54 (2019), 57 (2018), 78 (2017) e 76 (2019).
A queda na entrega de aviões comerciais foi de 70,3% na comparação com o mesmo período de 2019.
A aviação executiva recuou menos. A Embraer entregou 43 jatos de janeiro a setembro de 2020 contra 63 no mesmo período do ano passado, recuo de 31,7%.
Em 30 de setembro de 2020, a carteira de pedidos firmes a entregar da Embraer totalizava US$ 15,1 bilhões. O volume de encomendas é um pouco menor do registrado no final do primeiro trimestre, quando a estava em US$ 15,9 bilhões.
Na Embraer, a ordem é cortar custos e simplificar processos para ganhar produtividade.
“Iniciamos projetos para reduzir o ciclo de produção das aeronaves”, disse Francisco Gomes Neto, CEO e presidente da Embraer, em conferência com jornalistas. “Essas mudanças se concentraram não apenas na redução de custos, mas também para desenhar uma organização para melhor executar nosso plano estratégico 2021-2025”.
Uma das ações foi postergar entregas para 2022 e 2023, mas ainda sem cancelamentos.n