Xandu [email protected] | @jornalovale
Há desafio no ar.
Nutrida por desafios, a Embraer os encara como parte do DNA. A terceira maior fabricante de aviões do mundo está diante de mais um deles.
Talvez um dos maiores da sua história de 50 anos em razão da Covid-19, que desabou o setor aéreo.
Não há precedente e ainda não se enxerga a extensão do impacto no mercado e quem sobreviverá.
A Embraer contava com uma parceria com a Boeing que compraria 80% da divisão comercial da brasileira. O setor seria separado e a "velha" Embraer ficaria com 20%.
Em um mercado altamente competitivo, a força da Boeing impulsionaria as aeronaves da Embraer pelo mundo, multiplicando as vendas. Mas surgiu um vírus.
A Boeing cancelou o negócio com a Embraer já nos acréscimos, na iminência de conclusão. A Embraer se viu novamente sozinha e com gastos e exigências para readaptar a companhia à divisão comercial, processo iniciado neste mês.
A companhia, que foi ao mercado e obteve financiamento de R$ 3,2 bilhões de bancos públicos e privados, garante ser economicamente sólida e com liquidez.
O endividamento da empresa é de longo prazo e o dinheiro servirá para reforçar o caixa, de compra de peças até a entrega de aeronaves.
De acordo com a Embraer, a Covid-19 não provocou cancelamentos de pedidos, apenas adiamentos, informação muito bem recebida pelo mercado (leia texto nesta página).
O que se pergunta é: "que mercado existirá após a Covid"? Ninguém sabe.
Mas olhando para outras graves crises que paralisaram o setor aéreo, com em 2001 e 2009, é possível tirar pistas.
Aviões menores devem ser preferidos na retomada pós-Covid, especialmente por causa de rotas regionais. A Embraer domina esse mercado e seus aviões devem decolar antes de aviões maiores.
Com uma nova família de aeronaves comerciais (E2), a empresa está bem posicionada para disputar esse mercado, mas também sabe que a venda de aviões novos deve demorar a voltar a níveis pré-Covid.
Um 'xadrez espacial'.
"Vivemos momentos sem precedentes. Isso tem trazido impactos significativos para a nossa indústria, volatilidade ao mercado e incertezas para nossos clientes, colaboradores e fornecedores" disse Francisco Gomes Neto, presidente e CEO da Embraer.
Segundo ele, a empresa vai revisar o plano estratégico para os próximos cinco anos tendo em mente a crise.
Dentro disso, há lugar para potenciais parcerias, como desenvolvimento de produtos, serviços de engenharia e eventualmente para a produção.
OVALE apurou que a venda de parte da companhia como seria feita para a Boeing saiu do radar, ao menos por ora.
"Expectativa é que a aviação regional lidere a retomada, o que abre boa oportunidade para a Embraer. Temos produtos modernos e competitivos", disse Gomes Neto.
A empresa tem dois projetos nas pranchetas, que dependerão de financiamento: turboélice para aviação regional (até 70 passageiros) e um avião de transporte militar menor do que o KC-390 e híbrido (elétrico/combustível).
O céu, como se vê, é de novo um novo desafio.
Mercado reage com 'expectativas positivas' e alta nas ações da Embraer
A movimentação da Embraer para se recuperar da crise da pandemia e do acordo desfeito com a Boeing tem chamado a atenção. Segundo especialistas no mercado, os investidores acompanham cada movimento da empresa. As expectativas são positivas. Na Bolsa, as ações da Embraer já têm alta de 80%.
"A empresa passa por estruturação após o cancelamento da parceria com Boeing. Por conta da pandemia, apresentou um recuo na receita em 7,9% no trimestre. O lado positivo foi que não recebeu pedidos de cancelamentos de aeronaves, mas para que entregas fossem adiadas. Uma vitória para quem acreditava que o futuro da empresa mais popular da RMVale estaria destinado ao fim", disse Gustavo Neves, assessor de investimentos e economista da Plátano Investimos - XP Investimentos, de São José.