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Que voo fará a Embraer?
Após o fim do acordo com a Boeing, a fabricante de São José dos Campos encara cenário indefinido em meio à maior crise da história da aviação, com burburinhos de uma união com chineses e sob pressão do governo Jair Bolsonaro.
O cenário é desafiador e o futuro, incerto. O céu, que parecia de brigadeiro há um ano, tornou-se tempestuoso.
Sem a parceria com a Boeing, classificada pela Embraer como "estratégica", o mercado ficará mais desafiador.
Os norte-americanos recuaram do acordo assinado com a Embraer de comprar a maior parte da divisão comercial da brasileira, por US$ 4,2 bilhões (R$ 23,5 bilhões).
O negócio bilionário resultaria na Boeing Brasil Commercial, empresa com 80% pertencente à Boeing e 20%, à Embraer.
Outra companhia com 51% da Embraer e 49% da Boeing seria criada para vender a aeronave militar C-390 Millenium.
Ambas não decolaram, e Boeing e Embraer irão resolver a pendenga por meios arbitrais. Ambas se acusam de não terem cumprido o acordo.
Para piorar, o momento é dificílimo para empresas do setor aéreo, atividade que despencou no mundo devido à Covid-19.
"A situação é muito complicada, não só para a Embraer como para companhias e operadoras aéreas do mundo todo. Na Alemanha, 95% da aviação está no chão. Não sabemos como o mundo vai sair da pandemia", disse Expedito Bastos, pesquisador de assuntos militares da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG).
Sem a Boeing, que enfrenta uma crise sem precedentes, com pedido socorro financeiro ao governo dos EUA, a Embraer terá que manter a liderança no mercado de aviões regionais diante da união da Airbus com a principal rival, a canadense Bombardier.
O conglomerado europeu comprou a maior parte do programa de jatos regionais dos canadenses, e está oferecendo os jatos em seu portfólio de aviões maiores, o que aumenta a competitividade.
E isso nem é o desafio mais urgente. A Embraer tem que manter-se em pé diante da maior crise global desde a Segunda Guerra Mundial.
De acordo com o jornal 'OGlobo', a Embraer conversa com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) em busca de ajuda financeira. O banco poderia ampliar a sua fatia de participação na empresa ou liberar crédito de longo prazo. A lógica é que o governo brasileiro, que tem parte na Embraer, não deixe a empresa correr o risco de quebrar, devido ao caráter estratégico para a indústria nacional.
Também há, no próprio governo, quem simpatize com a ideia da venda para a China, que investe para competir com Boeing e Airbus com o jato C919, da estatal chinesa Comac. O avião é equivalente ao A320 e ao 737, mas tem problemas no desenvolvimento. Faltam aos chineses a experiência e a capacidade da Embraer, cuja linha de jatos comerciais seria complementar ao C919. Ainda é apenas especulação.
Aos funcionários, o presidente e CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, foi otimista: "Quero ressaltar que a Embraer tem liquidez suficiente e acesso a fontes de financiamento para alavancar a continuidade dos seus negócios. Somos uma empresa estratégica para o Brasil".
O mesmo fez o engenheiro Ozires Silva, 89 anos, ex-presidente da Embraer e um dos fundadores da companhia. Ele gravou um vídeo em apoio à empresa e estímulo aos funcionários: "Caminhem com a cabeça erguida e mostrem que essa nossa companhia ganhou o mundo para ficar"..