Emílio FariaEngenheiro de Software | @jornalovale
Eu moro desde 2016 em Dublin, a capital da Irlanda, a cidade mais afetada pela Covid-19 no país. Moro com minha esposa Júlia, que trabalha como babá. Quando entrou o lockdown, o que mais me assustou foi a perspectiva de que todos os planos teriam que ser adiados e a ideia de ficar confinado.
Mas fiquei desesperado vendo meus pais, que são do grupo de risco, em uma situação sem controle no Brasil.
Via pessoas próximas nas redes sociais sem cumprir o isolamento e me batia uma sensação de impotência.
Pela primeira vez na vida tive um ataque de pânico. Dei um tempo de noticias, saí de grupos e páginas na internet. Enquanto o tempo passava e as mortes aumentavam, comecei a perceber que mais jovens também perdiam a vida, e comecei a temer por mim e pela minha esposa.
Na Irlanda, eventos foram cancelados, como o 'Dia de São Patrício', equivalente ao carnaval no Brasil. Uma data muito importante e que ocorre em 17 de março. No dia seguinte à primeira morte, em 11 de março, o governo anunciou o fechamento das escolas e depois o lockdown.
O governo anunciou que pessoas afetadas e que perdessem o emprego ou tivessem o salário reduzido seriam ajudadas com 350 euros toda semana. Houve uma coordenação entre o governo e os bancos para que pequenos negócios pudessem ter seus débitos congelados e até donos de propriedades para que não houvesse despejo. Todos os negócios não essenciais fecharam.
Um senso de comunidade muito forte varreu o país e cada um fez sua parte. Claro que havia pessoas que não seguiam as regras. Para isso criaram um termo "covidiotas".
Apesar de não estar no grupo de risco, vejo pessoas mais novas morrendo. Apesar do relaxamento nas regras, continuo tomando todos os cuidados
As pessoas que vivem aqui não entendem o que aconteceu com o Brasil. E eu fico impressionado como algo que é puramente científico se tornou algo político. Me assusta como o obscurantismo tomou força no Brasil e as pessoas simplesmente não conseguem acreditar na ciência, que é baseada em fatos.
Aqui, o governo sempre deixou claro que a prioridade era salvar vidas. A economia se recupera, vidas perdidas não..