Xandu [email protected] | @jornalovale
A Igreja Católica está preocupada com a situação no país, que enfrenta a mais grave crise sanitária em 100 anos com consequências profundas na vida da nação, que vive ainda uma grave crise política.
Capital da fé no Brasil, o Santuário Nacional de Aparecida é um porto de esperança e ânimo nesses tempos conturbados e não se furta a acalentar o povo sofrido.
"A solução que o vírus parece exigir é que tenhamos um cuidado cada vez maior com a gente mesmo e principalmente com nossos irmãos e irmãs, sobretudo os mais fragilizados", disse o padre Domingos Sávio da Silva, missionário redentorista e reitor do Santuário Nacional durante a visita do papa Francisco a Aparecida, em 2013.
Nesta semana, Francisco ligou para a Basílica e conversou com dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida, deixando uma mensagem de encorajamento aos brasileiros.
Em entrevista, o sacerdote fala de fé, Covid e do descaso com o número de mortes.
Como avalia a ligação do papa para o Santuário?
A comunicação do papa Francisco com a nossa arquidiocese, por meio do arcebispo dom Orlando Brandes, mas certamente querendo falar para todo o Brasil, foi como o cuidado de um pai. Tenho impressão de que estamos brincando com a morte, não só no Brasil, mas em outras partes do mundo. O Brasil está com mais de 1.200 mortes diárias e parece que está tudo normal. A vida corre do mesmo jeito, o Brasil se abrindo numa hora em que o país ainda nem atingiu o pico da doença. Dá a impressão de que estamos brincando com a morte. O papa se mostra como um pai que valoriza a vida dos seus filhos e quer dar mais um alerta para nós, a preocupação que ele tem e, quem sabe, nos acordar para o que estamos vivendo, que é um drama humano.
O papa está preocupado?
Penso que sim. Ele já esteve aqui na região e tem conhecimento e deve estar sabendo que estamos no segundo lugar em número de casos no mundo, atrás dos Estados Unidos. Daqui a pouco seremos o país que vai estourar em número de mortes. O papa demonstra a preocupação de um pai.
Como o sr. vê a pandemia?
Estamos brincando com a morte. Essa é a minha impressão. Poderia ser 3.000, 4.000 mortes por dia que parece que não muda nada. A quantidade de mortes parece que não afeta, principalmente para quem poderia tomar essas atitudes.
O que a pandemia revela?
Revela para todo o mundo a fragilidade nossa. Um vírus que não conhecemos direito e que está arrasando. Por outro lado, a solução que o vírus parece exigir de nós é que tenhamos um cuidado cada vez maior com a gente mesmo e principalmente com nossos irmãos e irmãs, sobretudo os mais fragilizados. Se não assumimos isso, entramos nessa onda de assassinato. Podemos assassinar pela falta de cuidado que temos com a gente mesmo e com nossos irmãos.
Como o povo deve agir?
O único remédio que a OMS recomenda e que tem um efeito bastante grande é o distanciamento. Penso que seja o que a OMS, que entende da situação, pode nos ensinar e que gostaríamos que todos nós aprendêssemos, sobretudo quando ainda estamos numa linha de ascendência de casos e consequentemente de mortes no Brasil.
Mensagem de Aparecida?
Nossa Senhora é a mãe e também muito preocupada com o Brasil, que assumiu como padroeira, mãe e rainha. Nós queremos, através do Santuário, aquele olhar cuidadoso e preocupado da mãe tentando conscientizar de que esse cuidado que ela tem depende de nós também. Temos que assumir cada vez mais esse coração de Nossa Senhora.