Xandu Alves | @xandualves10
Pantanal arde.
Depois da Amazônia, cujas queimadas em agosto atingiram os piores índices da última década, o inferno ambiental transformou em cinza e vermelho fogo a paisagem do Pantanal, uma das maiores extensões úmidas contínuas do planeta.
Setembro de 2020 é o pior mês da história do Pantanal em focos de incêndio, segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Foram mais de 6.048 focos de incêndio no mês. Até então, agosto de 2005 era o pior mês da história, com 5.993 focos.
Já são mais de 16.200 focos de incêndio no Pantanal em 2020, também o maior índice de terra queimada da história. O Inpe monitora o bioma por meio de satélites desde 1998.
Também de acordo com dados do Inpe, o recorde anterior em um ano se deu em 2005, com 12.536 focos, número bem distante dos mais de 16 mil atuais.
CATÁSTROFE.
Com uma semana para o fim da medição em setembro, o mês já chegou a registrar mais de 1.000 novos focos de incêndio em apenas um dia. No último dia 12, as medições por satélite registraram 1.093 focos em 24 horas.
O Pantanal tem mais de 150 mil km² e ocupa 1,76% da área total do território brasileiro. O bioma é uma planície aluvial e influenciado por rios que drenam a bacia do Alto Paraguai. É considerado fundamental para o equilíbrio ecológico.
Estima-se que os incêndios já tenham destruído 19% do bioma, o que se transforma numa perda irreparável para a região do Pantanal e o meio ambiente em geral.
Segundo autoridades, a área afetada já passa de 2 milhões de hectares e destruiu refúgios de animais em extinção, como as araras azuis, e tem ameaçado espécies típicas da região, como a onça-pintada.
“Fugiu completamente do controle, muito por conta da negação, mas agora viram que é algo sem precedentes. Pagaremos um preço muito alto, porque não vai recuperar tudo que perdeu e vai levar um bom tempo para recuperar parte do que foi perdido”, apontou o climatologista Rodrigo Marques, professor da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso).
Ele classifica os incêndios de 2020 como uma “catástrofe para a natureza”.
Para piorar a situação, Marques informou que a região do Pantanal tem índice de chuva ao nível do clima semiárido nordestino.
Após cinco perícias no Pantanal, o governo de Mato Grosso informou que ações humanas teriam causado as queimadas na região.
Na sexta-feira (25), a Polícia Federal informou que tem provas de que ao menos quatro fazendeiros teriam iniciado as queimadas na região da Serra do Amolar, no Pantanal.
O Ministério Público Federal vai analisar o caso e poderá denunciá-los à Justiça Federal.
'Queimadas no Pantanal destroem um patrimônio que se perde para sempre'
Para o geólogo Paulo Roberto Martini, pesquisador do Inpe, as queimadas no Pantanal destroem o patrimônio vegetal para sempre. "No Pantanal, é outro tipo de cobertura, como as matas de várzea. Uma vez que queima e derruba não volta. Patrimônio que se perde para sempre".
E completa: "Não é só questão de tirar o mato, mas toda a biodiversidade agregada e o serviço ambiental. As temperaturas estão aumentando em função da retirada da vegetação".
Em nota, o Ministério da Defesa informou que 182 militares e 139 brigadistas estão combatendo os incêndios no Pantanal, sob coordenação do ICMBio e dos bombeiros estaduais..